Não é difícil notar que os alunos de hoje são completamente diferentes dos alunos do século passado. Precisamos, definitivamente, olhar mais atentamente para algumas das habilidades que nós, como professores devemos ter para vivenciar este desafio. Na educação, nenhum é tão assustador quanto o de manter alunos focados e envolvidos no processo de aprendizagem. (Med Kharback)Todo início de ano é pródigo em vaticínios sobre o futuro. A revista Época Negócios de Dezembro de 2014 trás as previsões da General Eletric (GE) sobre o tema inovação para as próximas décadas. "A Próxima Lista" é o setor da GE que se ocupa das tendências que devem revolucionar a indústria nos próximos 50 anos e que orientam os mais de 3 mil engenheiros, cientistas e pesquisadores no desenvolvimento de máquinas e tecnologias avançadas, com os olhos voltados para 2064. O projeto da GE foi inspirado no artigo do escritor de ficção científica, Isaac Asimov, publicado no jornal The New York Times, em 1964, após sua visita à Feira Mundial de Nova York, citando as inovações que ele vislumbrava para 2014. Entre as previsões de Asimov podem ser citadas telas plásticas de suporte para a comunicação no lugar do papel; computadores pessoais e máquinas inteligentes para traduzir textos em várias línguas; desertos convertidos em fazendas movidas pela energia solar; transporte urbano realizado por enormes veículos trafegando por canteiros centrais e carros automatizados e preocupação crescente com o meio ambiente e com as plantações em escala. Realmente, muitas previsões aconteceram e outras estão a caminho. Assim, "A Próxima Lista", com um orçamento anual de US$ 5 bilhões, vislumbra o futuro até 2064 com as seguintes inovações: a) internet industrial – 50 milhões de pontos de informação; b) nova revolução industrial com máquinas superinteligentes; c) supermateriais – máquinas leves e incrivelmente fortes; d) máquinas potentes para atuar em ambientes insípidos; e) energia em todo o lugar; f) mundo movido pelo vento, sol e até pelo lixo; g) entendimento mais profundo do funcionamento cérebro humano. Além da divulgação dos cenários do futuro, a mídia tem também o costume de entrevistar empresários e profissionais conhecidos, visando orientar os “calouros” e passar-lhes as suas receitas para o sucesso profissional. Na Folha-Mercado (13.12.2014), Mark Zuckerberg, co-fundador e presidente executivo do Facebook, ao responder aos questionamentos de estudantes, diz que não se deve ter medo de errar. “O slingshot e o Facebook Home foram iniciativas que não deram certo, mas nós aprendemos muito com elas. Se você é bem sucedido, já cometeu erros na maioria das coisas que fez. O que importa no final é aquilo que fez direito. Acertar mais do que errar, é a receita”. Mike Krieger – com 28 anos de idade, um dos brasileiros mais respeitados do Vale do Silício, criador do Instagram junto com o sócio Kevin Systron em 2010 – em entrevista ao O Estado-Economia (11.12.2014), ao ser perguntado qual seria a melhor maneira de começar uma startup, afirmou: “As pessoas ficam preocupados com o produto e com a parte técnica e se esquecem das necessidades do comprador. Vejo muita gente com grandes ideias sem pensar no usuário. O essencial é entender o problema do consumidor e mostrar a capacidade de solucioná-lo de forma simples." No site napratica.org.br, encontramos orientações interessantes de Jorge Paulo Lemann, maior empresário brasileiro, de Bernardo Hees, presidente da Henz, e de Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lemann, o homem mais rico do Brasil, disse com a sua praticidade que cada um deve testar seu caminho, estudando e procurando instruir-se de todas as formas, inclusive pela Internet. “O Brasil está se desenvolvendo em todas as áreas e certamente haverá oportunidades para quem quiser procurá-las.” Para Hees, “qualquer pessoa que trabalhe duro e que tenha ética vai fazer coisas legais”. Luciano Coutinho enfatizou que disciplina e dedicação são essenciais: “quem trabalha pouco e sem atenção ao que faz não irá a lugar nenhum”. Os consultores de empregos.com.br estabeleceram, por sua vez, cinco pontos para o êxito profissional: a) olhar o mercado e ter foco; b) atualizar-se continuamente; c) ter competências comportamentais valorizadas pela empresa e não apenas conhecimentos técnicos; d) conhecer o que está acontecendo no mundo; e e) fazer parte de redes de relacionamento profissional. Como síntese desses conselhos e orientações, citamos as dez Cualidades profissionales indispensables para el siglo XXI, publicadas no blog de Jose Miguel Bolivar[1] que chamam a atenção para o predomínio das competências socioemocionais sobre o conhecimento técnico: 1) adaptabilidade – ajuste às mudanças; 2) capacidade de assumir riscos e incertezas e encarar o insucesso de forma positiva; 3) motivação para atuar buscando resultados concretos – ações, metas e cronogramas; 4) disposição/mobilidade para trabalhar em qualquer lugar remota ou presencialmente; 5) capacidade de ter ideias próprias quer trabalhando para terceiros ou por conta própria; 6) habilidade para conectar-se com as diversas redes que interagem com os objetivos individuais e coletivos; 7) curiosidade para aprender constantemente e evitar a obsolescência; 8) tecnoconsciência – o domínio da tecnologia como obrigação e não mais como opção; 9) marca pessoal – credibilidade, reputação e confiabilidade e 10) produtividade pessoal – cumprimento das tarefas. Enfim, não faltam “receitas” para uma carreira bem sucedida, mas a maioria não tem clareza sobre seu projeto existencial, o que torna difícil qualquer planejamento. A nosso ver, a preocupação central deve ser com o futuro e com a vida que cada um deseja levar em função de seus objetivos. Grandes empresários de sucesso econômico nem sempre conseguem ter um bom relacionamento familiar. Por outro lado, excelentes pais de família são muitas vezes desligados das questões financeiras. A pergunta que fazemos é: Qual é o modelo de escola que fornece informações para o estudante ter uma orientação sobre seu projeto de vida? Confessamos que só conhecemos as menções publicitárias que, nem sempre, se confirmam no mundo real. Encontrar tal modelo é tarefa de gigantes que só um sistema educacional racionalizado e amplo poderá conceber, considerando que há muitas questões envolvidas. Estas podem ser tanto de natureza individual, empresarial e social, quanto de âmbito territorial – o país, no qual todos buscam o desenvolvimento a qualquer custo, e o próprio planeta Terra que precisa ser bem cuidado. É importante ter em mente que em qualquer sistema educacional o professor será sempre o protagonista de toda a transmissão de conhecimentos. Para isso, ele deverá saber que seu papel mudou, que sua importância será fundamental para o processo ensino-aprendizagem e que, no momento atual, ele disporá de muitos recursos. Juntamente com as plataformas dos meios diversos de comunicação, a tecnologia é um forte aliado, ao contribuir para que todos os professores cumpram bem as suas tarefas.[2] A tecnologia vai influir ainda em todas as áreas do saber e, consequentemente, no processo educacional, pelo fato de possibilitar o alcance do mundo do conhecimento, por meio de todas as mídias comunicacionais, e a construção de uma base de conhecimento inimaginável há algumas décadas atrás. Hoje é possível ter num simples smartphone um universo de informações. Os estudantes estão mais digitalmente focados nas telas transmissoras do que em qualquer outro aparato. Passam mais tempo interagindo com seus dispositivos móveis do que com seus pais ou parentes. E a nova sociedade intermediada pelas redes de relacionamento cruzam o espaço sideral. O domínio da tecnologia aplicada à educação é primordial, é condição de sobrevivência do professor, contribuindo para diferenciá-lo profissionalmente, e é a base de qualquer sistema educacional. As transformações havidas no espaço de tempo compreendido entre a publicação do artigo de Asimov em 1964 e as previsões da "Próxima Lista" da GE para 2064, são profundas, porém insuficientes para que o planeta Terra encontre seu equilíbrio e equalize seus problemas. Há um mundo em transformação a exigir recursos humanos em todas as áreas e em todos os níveis para sua consecução. Um sistema educacional voltado para o futuro precisará ser construído. Para tanto, carecemos de novas ideias e de novas soluções. As redes de relacionamentos existentes precisarão mais do que nunca intercambiar experiências para sobrepujar a instantaneidade dos acontecimentos. Só um sistema educacional antenado ao futuro poderá formar os talentos que o país precisa para caminhar na direção do seu desenvolvimento e progresso. [1] http://www.optimainfinito.com/2013/11/10-cualidades-profesionales-indispensables-para-el-siglo-xxi.html [2] Leiam o que afirma Med Kharbach sobre as competências para o ensino no século XXI no site http://www.educatorstechnology.com/